Troca de experiências ajuda usuário no combate à droga
30/04/2011 às 19:09
Danile Rebouças l A TARDEMarco Aurélio Martins/Agência A TARDE
Quadro da reunião aberta do grupo NA do Stiep, na última quinta, resume orientações para os membros
Esta realidade mudou há oito anos e dez meses, quando ele entrou para a irmandade Narcóticos Anônimos (NA). Marcelo incorporou o lema do grupo – parar de se drogar “só por hoje” – e conseguiu suspender totalmente o uso. “Retomei os estudos, estou casado e trabalhando. Aprendi a me valorizar e fui me autoconhecendo. Sei que o NA não é a única solução, mas funcionou para mim. Tem gente que consegue usar droga de modo controlado. Eu não. Vi que para mim não adianta redução de danos”, reconhece.
O NA é um grupo de ajuda mútua, que atua no mundo inteiro e está desde a década de 80 no Brasil. Voltado para quem tem problemas com drogas, o NA não é vinculado a religião ou grupos políticos. Não cobra taxas e para ser membro tem como requisito único a vontade de parar de usar drogas. A base do trabalho é o programa 12 passos – criado nos EUA e usado por grupos de autoajuda para o tratamento de dependências químicas ou compulsões.
Vivência - “Não estamos aqui para vigiar, nem dizer o que se deve fazer. Mostramos o que é o ideal para que cada um reformule sua vida”, explica o coordenador do grupo Ricardo*, que deixou a cocaína de lado há oito anos, após vício de mais de dez anos. O NA surge na lista de grupos, clínicas e instituições que atuam na tentativa de minimizar danos provocados pelas drogas no ser humano.
O alto consumo na Bahia pode ser percebido nos dados da Coordenação de Documentação e Estatística Policial da Secretaria de Segurança Pública. Em 2010, cerca de 2.909 quilos de drogas, somando apreensões de crack, maconha e cocaína, além de 54.338 pés de maconha foram apreendidos no estado. Em 2009 esse valor chegou a 5.027 quilos de drogas, com 131.712 pés de maconha.
Encontros - Na Bahia, o NA está presente em ao menos 14 cidades. Em Salvador há cerca de 20 pontos de encontros. Conforme Ricardo, há uma média de 500 pessoas frequentando. Vitória*, 35, que ingressou no grupo após oito anos de relação intensa com as drogas, é uma delas.
“Tomei consciência do que estava fazendo quando um vizinho ligou e disse que minha filha estava tendo convulsão e meu apartamento pegava fogo. Tinha saído para me drogar e deixei os dois filhos sós em casa”. Vitória foi internada em clínica para tratamento por 80 dias e ingressou no NA há dois anos e três meses. “Hoje a minha felicidade é ouvir meu filho (13 anos) dizer que me ama. Antes, ele dizia ‘eu te odeio!’ ”, conta.
O policial militar Paulo* voltou a frequentar o NA há cerca de dois meses. Desde 2006, conta que tem relação intensa com o crack. “Não sei dizer se meu comportamento compulsivo tem a ver com a polícia. Mas sei que tem muito policial precisando de ajuda por causa disso e tem vergonha de dizer”. Paulo foi à falência. Abandonou o serviço militar e foi preso duas vezes por isso. Por três vezes ficou internado e agora, além do NA, faz acompanhamento com psiquiatra e psicólogo.
No NA, os membros não são tratados como dependentes químicos já que não há atendimentos médicos para que se faça diagnóstico. “Sabemos que temos problema com drogas e agora estamos em recuperação. Nossa doença é a adicção, que envolve obsessão, egocentrismo e compulsão ”, esclarece Ricardo.
*Nomes Fictícios
Onde buscar ajuda em Salvador:
Narcóticos anônimos - Reuniões nas igrejas católicas dos bairros Boa Viagem, Alto das Pombas, Stiep, Graça, Imbuí, Nazaré, Água de Meninos, Penha, Rio Vermelho, Vitória, Sussuarana e São Cristóvão /nos centros comunitários do Bonfim, Periperi e Itapuã/na Casa dos Idosos em Amaralina/ no Centro Espírita Centelha Divina (Boca do Rio) / Restaurante Conforto, no Pelourinho // Linhas de ajuda: 8213-1953 / 3484-0999 // Infoline: 3533-3400
Cetad - Rua Pedro Lessa, 123, Canela // www.cetad.ufba.br
CAPs AD - Estrada de Campinas, 61 - atende pacientes até 30 anos // Rua Tomás Gonzaga, 23 - atende a partir de 18 anos
Nar-Anon - Encontros na Igreja de Itapuã (segunda, 19h30), Igreja da Graça (terça, 19h30), Igreja de Santana - Rio Vermelho (quinta, 19h) e Igreja Nossa Senhora da Esperança no Stiep (sextas, 19h30)
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1 Comentários
Sim senhor, e se conseguir levar para essas cidades o NARANON com os 12 passos muita gente vai se recuperar GRATUITAMENTE.http://www.naranon.org.br/
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