Sancionada lei de combate o tráfico de pessoas. Lei também altera o Cód Penal
O tráfico nacional e
internacional de pessoas terá penalidades endurecidas e as vítimas
poderão contar com medidas de atenção e proteção. Foi sancionada pelo
presidente Michel Temer a Lei 13.344/2016, que está publicada no Diário Oficial desta sexta-feira (7).
A norma resulta de Projeto de Lei do Senado (PLS 479/2012),
denominado Marco Legal do Combate ao Tráfico de Pessoas.
O texto inclui no Código Penal o crime
de tráfico de pessoas, tipificado pelas ações de agenciar, recrutar,
transportar, comprar ou alojar pessoa mediante ameaça, violência, fraude
ou abuso, com a finalidade de remover órgãos, tecidos ou parte do
corpo, submetê-la a condições de escravidão, adoção ilegal e/ou
exploração sexual.
A pena prevista é de quatro a oito anos
de prisão, além do pagamento de multa. A punição pode ser aumentada
caso o crime seja cometido por funcionário público ou contra crianças,
adolescentes e idosos. A penalidade também pode ser agravada caso a
vítima seja retirada do território nacional.
A lei prevê a criação de políticas
públicas interdisciplinares que envolvam profissionais de saúde,
educação, trabalho, segurança pública, justiça e desenvolvimento rural
como medidas para a prevenção de novos casos de tráfico de pessoas.
Outras formas de prevenção dos crimes, conforme o texto, são campanhas
socioeducativas e de incentivo a projetos sociais de combate ao tráfico
de pessoas.
O texto também estabelece a cooperação
entre órgãos dos sistemas de Justiça e segurança nacionais e
internacionais e a criação de um banco com dados de infratores e vítimas
de tráfico, a fim de evitar novas ocorrências. O acolhimento e abrigo
provisório para as vítimas e benefícios de ordem jurídica, social e de
saúde também estão previstos.
Pela nova lei, o Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas será lembrado, anualmente, em 30 de julho.
A edição da norma constitui adaptação
da lei brasileira ao Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção,
Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas (Protocolo de Palermo), do
qual o Brasil é signatário.
A lei altera artigos do Código de Processo Penal, Estatuto do Estrangeiro e Código penal, revogando os art.230-A e art231 deste último Esatuto.
Segue o texto da lei abaixo:
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
Vigência |
Dispõe sobre prevenção e
repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de
atenção às vítimas; altera a Lei no 6.815, de 19 de agosto de
1980, o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código
de Processo Penal), e o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal); e revoga dispositivos do Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).
|
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o tráfico de pessoas
cometido no território nacional contra vítima brasileira ou estrangeira e no
exterior contra vítima brasileira.
Parágrafo único. O enfrentamento ao tráfico de pessoas compreende a
prevenção e a repressão desse delito, bem como a atenção às suas vítimas.
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DAS DIRETRIZES
I - respeito à dignidade da pessoa humana;
II - promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos;
III - universalidade, indivisibilidade e interdependência;
IV - não discriminação por motivo de gênero, orientação sexual, origem
étnica ou social, procedência, nacionalidade, atuação profissional, raça,
religião, faixa etária, situação migratória ou outro
status;
V - transversalidade das dimensões de gênero, orientação sexual, origem
étnica ou social, procedência, raça e faixa etária nas políticas públicas;
VI - atenção integral às vítimas diretas e indiretas, independentemente
de nacionalidade e de colaboração em investigações ou processos judiciais;
VII - proteção integral da criança e do adolescente.
I - fortalecimento do pacto federativo, por meio da atuação conjunta e
articulada das esferas de governo no âmbito das respectivas competências;
II - articulação com organizações governamentais e não governamentais
nacionais e estrangeiras;
III - incentivo à participação da sociedade em instâncias de controle
social e das entidades de classe ou profissionais na discussão das políticas
sobre tráfico de pessoas;
IV - estruturação da rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas,
envolvendo todas as esferas de governo e organizações da sociedade civil;
V - fortalecimento da atuação em áreas ou regiões de maior incidência do
delito, como as de fronteira, portos, aeroportos, rodovias e estações
rodoviárias e ferroviárias;
VI - estímulo à cooperação internacional;
VII - incentivo à realização de estudos e pesquisas e ao seu
compartilhamento;
VIII - preservação do sigilo dos procedimentos administrativos e
judiciais, nos termos da lei;
IX - gestão integrada para coordenação da política e dos planos
nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
CAPÍTULO II
DA PREVENÇÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS
I - da implementação de medidas intersetoriais e integradas nas áreas de
saúde, educação, trabalho, segurança pública, justiça, turismo, assistência
social, desenvolvimento rural, esportes, comunicação, cultura e direitos
humanos;
II - de campanhas socioeducativas e de conscientização, considerando as
diferentes realidades e linguagens;
III - de incentivo à mobilização e à participação da sociedade civil; e
IV - de incentivo a projetos de prevenção ao tráfico de pessoas.
CAPÍTULO III
DA REPRESSÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS
I - da cooperação entre órgãos do sistema de justiça e segurança,
nacionais e estrangeiros;
II - da integração de políticas e ações de repressão aos crimes
correlatos e da responsabilização dos seus autores;
III - da formação de equipes conjuntas de investigação.
CAPÍTULO IV
DA PROTEÇÃO E DA ASSISTÊNCIA ÀS VÍTIMAS
I - assistência jurídica, social, de trabalho e emprego e de saúde;
II - acolhimento e abrigo provisório;
III - atenção às suas necessidades específicas, especialmente em relação
a questões de gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência,
nacionalidade, raça, religião, faixa etária, situação migratória, atuação
profissional, diversidade cultural, linguagem, laços sociais e familiares ou
outro status;
IV - preservação da intimidade e da identidade;
V - prevenção à revitimização no atendimento e nos procedimentos
investigatórios e judiciais;
VI - atendimento humanizado;
VII - informação sobre procedimentos administrativos e judiciais.
§ 1o A atenção às vítimas dar-se-á com a interrupção
da situação de exploração ou violência, a sua reinserção social, a garantia de
facilitação do acesso à educação, à cultura, à formação profissional e ao
trabalho e, no caso de crianças e adolescentes, a busca de sua reinserção
familiar e comunitária.
§ 2o No exterior, a assistência imediata a vítimas
brasileiras estará a cargo da rede consular brasileira e será prestada
independentemente de sua situação migratória, ocupação ou outro
status.
§ 3o A assistência à saúde prevista no inciso I deste
artigo deve compreender os aspectos de recuperação física e psicológica da
vítima.
Art. 7o A Lei no
6.815, de 19 de agosto de 1980, passa a vigorar acrescida dos seguintes
artigos:
“Art. 18-A. Conceder-se-á residência permanente às vítimas de tráfico de pessoas no território nacional, independentemente de sua situação migratória e de colaboração em procedimento administrativo, policial ou judicial.§ 1o O visto ou a residência permanentes poderão ser concedidos, a título de reunião familiar:I - a cônjuges, companheiros, ascendentes e descendentes; eII - a outros membros do grupo familiar que comprovem dependência econômica ou convivência habitual com a vítima.§ 2o Os beneficiários do visto ou da residência permanentes são isentos do pagamento da multa prevista no inciso II do art. 125.§ 3o Os beneficiários do visto ou da residência permanentes de que trata este artigo são isentos do pagamento das taxas e emolumentos previstos nos arts. 20, 33 e 131.”“Art. 18-B. Ato do Ministro de Estado da Justiça e Cidadania estabelecerá os procedimentos para concessão da residência permanente de que trata o art. 18-A.”“Art. 42-A. O estrangeiro estará em situação regular no País enquanto tramitar pedido de regularização migratória.”
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS
Art. 8o O juiz, de ofício, a requerimento do
Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o
Ministério Público, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá
decretar medidas assecuratórias relacionadas a bens, direitos ou valores
pertencentes ao investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas
pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito do crime de tráfico de
pessoas, procedendo-se na forma dos
arts. 125 a
144-A do Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
§ 1o Proceder-se-á à alienação antecipada para
preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de
deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
§ 2o O juiz determinará a liberação total ou parcial
dos bens, direitos e valores quando comprovada a licitude de sua origem,
mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes
à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas
decorrentes da infração penal.
§ 3o Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o
comparecimento pessoal do acusado ou investigado, ou de interposta pessoa a que
se refere o caput,
podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens,
direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1o.
§ 4o Ao proferir a sentença de mérito, o juiz
decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, sequestrado ou
declarado indisponível.
Art. 9o Aplica-se subsidiariamente, no que couber, o
disposto na Lei no
12.850, de 2 de agosto de 2013.
Art. 10. O Poder Público é autorizado a criar sistema de informações
visando à coleta e à gestão de dados que orientem o enfrentamento ao tráfico de
pessoas.
Art. 11. O
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal),
passa a vigorar acrescido dos seguintes arts. 13-A e 13-B:
“Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá:I - o nome da autoridade requisitante;II - o número do inquérito policial; eIII - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.”“Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.§ 1o Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.§ 2o Na hipótese de que trata o caput, o sinal:I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei;II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período;III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de ordem judicial.§ 3o Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial.§ 4o Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.”
Art. 12. O inciso V do art. 83 do
Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 83. ......................................................................................................................................................................V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.....................................................................................” (NR)
Art. 13. O Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar acrescido do
seguinte art. 149-A:
“Tráfico de PessoasArt. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;IV - adoção ilegal; ouV - exploração sexual.Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ouIV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa.”
CAPÍTULO VI
DAS CAMPANHAS RELACIONADAS AO ENFRENTAMENTO AO
TRÁFICO DE PESSOAS
Art. 14. É instituído o Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas, a ser comemorado, anualmente, em 30 de julho.
Art. 15. Serão adotadas campanhas nacionais de enfrentamento ao tráfico
de pessoas, a serem divulgadas em veículos de comunicação, visando à
conscientização da sociedade sobre todas as modalidades de tráfico de pessoas.
CAPÍTULO VII
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 16. Revogam-se os
arts. 231 e
231-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal).
Art. 17. Esta Lei entra em vigor
após decorridos 45 (quarenta e cinco) dias de sua publicação oficial.
Brasília, 6 de outubro de 2016; 195o
da Independência e 128o da República.
MICHEL TEMER
Alexandre de Moraes
José Serra
Ricardo José Magalhães Barros
Osmar Terra
Grace Maria Fernandes Mendonça
Este texto não substitui o publicado
no DOU de 7.10.2016
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